segunda-feira, agosto 07, 2006

Gastronomia

A chamuscar o porcoAo falar da gastronomia local, são indicadas as maneiras como se faz o queijo e o fumeiro na região. Para além destes, a produção do mel é uma actividade muito praticada no concelho. De múltiplas aplicações, o mel foi considerado um antiséptico, sendo usado como «pomada» nas feridas e pisaduras. Durante as constipações, serve para adoçar chás e o leite.

Sendo um produto de excelentes qualidades para a saúde, é durante o mês de Agosto que se procede a sua «cresta». Os homens, ao retirarem as alças das colmeias, protegem-se com luvas e máscaras. Depois, injectam uma certa quantidade de fumo para afastar as abelhas dos favos. Com uma escova apropriada, desviam aquelas que teimam em ficar.

Retiradas as alças, colocam-se em cima de um recipiente e separam o mel com uma faca. Depois de limpas, são metidas num extractor. Uma manivela faz girar o tambor, e o mel agarrado ,aos favos, é atirado para o fundo por acção da força centrífuga, escorregando para um balde.

Quando este está cheio, é coado e despejado no tanque de limpeza, ficando aí a repousar durante dois dias. Passado esse tempo, retiram a espuma e guardam o mel em boiões.

Gastronomia local

É variada e deliciosa a gastronomia do concelho, o saboroso caldo de couves, a tão apreciada sopa de peixe servida em Barca d’ Alva, a sopa de «carrapatos» ou o forte caldo de feijões com hortaliça são um complemento de uma substancial refeição, onde a escolha é dificultada pela variedade de opções. Desde as morcelas e farinheiros, aos presuntos fumados e buchos de porco recheados; dos assados de cabrito ou borrego, às febras grelhadas; dos pratos de coelho, lebre e javali à feijoada e aos torresmos; do bacalhau assado com batatas a murro aos cozidos acompanhados de deliciosos grelos devidamente regados pelo saboroso azeite, de que o concelho é produtor, tudo isto o visitante pode saborear, acompanhando com o bom vinho da região.

Sobremesas não faltam. Tanto pode optar pelo queijo de leite de ovelha ou com mistura de leite de vaca, como pelos doces tradicionais; das compotas às filhós; do arroz-doce às papas de milho. Para além disso, as azeitonas e o mel são outros aditivos alimentares de que a região é rica. Nas manhãs de Inverno, o pequeno almoço pode ser saboreado com grossas e largas fatias do pão local, torrado nas brasas da lareira, com os deliciosos biscoitos de Escalhão, ou os saborosos «mortoiros» e «esquecidos» de Mata de Lobos.

O porco foi o animal que mais contribuiu para a base alimentar da população local. O afiar da longa faca, o lavar do banco, a contratação do matador, o convite aos ajudantes, a compra do colorau e da tripa de vaca, seca, são uma série de rituais que prenunciam a proximidade do «dia da matança» por alturas do Natal.

Manhã cedo, o porco é empurrado para fora da cortelha. De jejum desde o dia anterior, o animal ainda tem forças para oferecer forte resistência. Atando-lhe o focinho e as patas com uma corda, é estendido no banco. O matador espeta-lhe a faca no coração com um golpe brusco e certeiro. Uma rapariga segura o alguidar, por baixo do ferimento, apanhando o sangue que jorra. Com uma colher de pau, mexe o espesso e quente líquido para não coagular.

O bicho grunhe com desespero até exalar o último suspiro. De seguida, pegando em feixes de palha, ateiam-lhes o fogo e chamuscam o animal. Um cheiro adocicado, proveniente da carne e dos pêlos queimados, espalha-se pelo ar.

Alguns instantes depois, daquela operação, raspam-no com uma pedra. De vez em quando, lançam um balde de água sobre o bicho, para o lavar. No final, o porco é virado de barriga para o ar e o matador faz-lhe um corte profundo nas patas traseiras. Com os tendões a descoberto, metem aí um pau ou ferro - o «chambaril». Transportado o bicho para a loja, dependuram-no de uma trave e colocam um alguidar por debaixo da cabeça para apanhar o sangue que ainda escorre.

O animal é aberto, retirando-lhe as tripas e as miudezas. Chega finalmente a hora do almoço. Os ajudantes encaminham-se para a sala de jantar. Entre risadas, e colheradas de caldo de feijão, quente e apetitoso, inicia-se a refeição. De seguida, vêm para a mesa travessas fumegantes de arroz de cabidela.

Ao outro dia, logo pela manhã, o porco é descido da trave e desmanchado. Os presuntos ficam intactos. Dos lombos cortam-se as febras e as partes magras servindo de recheio para o fumeiro.

São saborosos os enchidos que se fazem na região. Constituem o «peguilho» de muitas refeições ao longo do ano. Para além do afamado presunto há ainda:

  • Morcelas- São feitas com sangue de porco, pão, abóbora, erva doce e adoçadas com mel ou açúcar. Algumas não levam açúcar, mas são, também muito saborosas.
  • Farinheiros- São feitos com pão, azeite, unto derretido, abóbora e colorau.
  • Chouriça - É feita com pedaços de febra, alho, colorau e vinho.
  • Salpicão de ossos- Com pontas das costelas, ossos macios, pedaços de coração, focinho e bucho são feitos os deliciosos salpicões.

Outro alimento, de fabrico artesanal, é o queijo de ovelha. A sua confecção verifica-se entre os meses de Fevereiro a Abril. O leite é coado por um coador ou pano, para um pote de barro. De seguida, junta-se-lhe a flor do cardo - o coalho - funcionando como fermento.

A fazer o queijoQuando o leite estiver coalhado é deitado no cincho, apoiado na francela, e espreme-se lentamente. O soro sai pelos buracos laterais do cincho e, escorrendo pela francela, cai para um alguidar. Deita-se nova quantidade de «coalhada» no espaço vazio.

Terminada esta operação, o cincho, repleto de pasta de leite coalhado e espremido, fica a escorrer por um período de uma hora. Passado esse tempo, junta-se-lhe sal, tapa-se com um pano e coloca-se-lhe, em cima, uma tábua com um peso a fim de escorrer o resto do soro.

Algumas horas depois, o queijo é retirado e colocado numa tábua, a secar, suspensa do tecto. Permite, desta maneira, apanhar ar e impedir a visita inoportuna de algum rato.

Para evitar que o queijo ganhe bolor, unta-se com azeite e colorau.

Do soro, libertado do leite coalhado, fazem uma revigorante bebida. Para isso, deitam-no num caldeiro e põem-no ao lume. Quando estiver quase a ferver, acrescenta-se-lhe um pouco de leite, ainda frio, para engrossar. Mexendo-se o líquido pastoso com um pau de lódão, bate-se, de vez em quando, na borda do caldeiro até formar uma crosta. Retirada com uma espátula, é deitada numa requeijeira para fazer requeijão. O líquido restante bebe-se, adoçando cada um a seu gosto.

As azeitonas curtidas são outro acepipe muito apreciado. Acompanhadas com pão, servem de aperitivo nas «súcias» realizadas nas adegas particulares. É costume, as donas de casa fazerem três cortes nas azeitonas, antes da as meterem nas tulhas, para curtir. Assim perdem parte da sua acidez, ficando com um gosto saboroso e diferente.

Em casa, procede-se à «limpa», separando o fruto das folhas que vêm agarradas, De seguida, as azeitonas são guardadas na tulha até chegar a hora de irem para o lagar.

O concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, situado entre os vales dos rios Côa e Águeda, é uma região de largas tradições vinícolas. A cultura da vinha data do séc. XII, e foi iniciada pelos monges do Convento de Santa Maria de Aguiar. Dispõe de uma moderna Adega Cooperativa. Fundada em 7 de Junho de 1956, tem actualmente cerca de 1100 associados. Recebeu várias menções honrosas pela, então Junta Nacional do Vinho. Pelo Instituto da Vinha e do Vinho, os seus vinhos foram distinguidos com medalhas de ouro e prata.

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