segunda-feira, agosto 07, 2006

Castelo Rodrigo-História

Fonte da Vila


«Portou-se esta vila com admirável valor e grande fidelidade nas guerras da aclamação; porque sendo sitiada pelo Duque de Ossuna em 4 de Julho de 1664, com quatro mil infantes e seiscentos e cinquenta cavalos, não tendo dentro mais que duzentos infantes e vinte cavalos, e alguns moradores dos lugares do termo dela, se defenderam tão valorosamente que por mais que a combateram até chegaram a abrir-lhe duas brechas, não experimentou fraqueza.

Não desistindo contudo os inimigos da empresa, e passados três dias, apareceu Pedro Jacques de Magalhães, na serra da Vieira, pouco distante desta vila, com bem pouco socorro militar e entendendo os inimigos que era grande se retiraram, deixando todos os apetrechos militares, mas saindo os nossos da praça se incorporaram com os outros e deram sobre os inimigos no sítio da Salgadela, donde os destruíram a todos, que somente se livrou o Duque general com poucas pessoas da sua comitiva.

O feliz sucesso desta vitória se deve à milagrosa imagem de Nossa Senhora de Aguiar, que se venera no real Mosteiro da Ordem de S. Bernardo, pois afirmam muitos com pia opinião foi vista a sobredita Senhora nos arranques da batalha. Tem a vila duas portas por onde se entra para ela,Aspecto interior da muralha uma chamada do Sol e outra da Alverca, e logo à entrada desta está um poço de cantaria, quadrado, muito grande, alto e fundo.

Tem ainda a Casa da Câmara, Praça com pelourinho e relógio. Tem Alvará de Sua Majestade para nos Domingos terceiros de cada mês fazer uma feira, à qual por dizerem que é o sítio da terra áspero, mudaram para o lugar de Figueira, donde de presente se faz. À dita feira concorre muita gente. A razão da mudança foi porque nesse tempo, alguns Ministros e Vereadores ali moravam e queriam ter a feira à porta de casa.

Da torre do castelo se descobre a cidade da Guarda, Almeida, Pinhel, Trancoso, Cinco Vilas, Reigada e Mata de Lobos. De Castela descobre-se a vila de São Felizes».

Castelo Rodrigo, 28 de Abril de 1758.O reitor José Lourenço Ferreira (Adaptado)

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Castelo Rodrigo está situado no cimo de uma colina com a altitude de 820 metros que faz parte da Meseta Hispânica, tendo a seus pés, do lado norte, Figueira, do sul, as terras de Vilar Torpim, do nascente, a sua anexa de Nave Redonda e do poente, as freguesias de Colmeal e Freixeda do Torrão, das quais é separado pelas serras da Vieira e da Marofa.

Castelo Rodrigo conserva ainda o plano medieval de praça circular com cintura de muralhas, as quais teriam sido, inicialmente construídas pelos romanos, quando ali teriam edificado um grande forte.

Destruídas pelos povos que se lhes seguiram, em 1209, o rei de Leão, D. Afonso IX, cria o "concelho perfeito" de Castelo Rodrigo, concede-lhe os primeiros foros e reconstrói-as, para se defender dos portugueses que, na altura, se encontravam a norte do Douro.

O nome Castelo Rodrigo provém do conde Rodrigo Gonçalves Girão que repovoou esta região ainda antes da nacionalidade e passou a fazer parte do território nacional a partir do Tratado de Alcanizes , desempenhando um papel preponderante de defesa do território.

Com a inclusão do território de Riba - Côa na Nação Portuguesa pelo Tratado de Alcanizes, de 12 de Setembro de 1297, cabe a D. Dinis a vez de proceder à restauração dos castelos da região. Efectivamente, não tendo D. Dinis que recear ataques muçulmanos, procurou consolidar as fronteiras do seu reino, para prevenir qualquer invasão de Leão e Castela e, por isso, nas terras de Riba-Côa, reedifica os Castelos de Alfaiates, Almeida, Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Pinhel, Sabugal e Vilar Maior.

Mandou reedificar e repovoar a vila de Castelo Rodrigo e erigir um forte Castelo com altaneira torre de menagem de forma quadrangular com seis janelas sacadas e uma poderosa cinta de muralhas apoiadas em torreões semi-circulares, para defesa da povoação.

Ao longo dos séculos, diversas vicissitudes militares por que terá passado esta vila condicionaram o seu despovoamento e a sua sistemática ruína. No entanto, vários foram os monarcas que intervieram e se preocuparam com a recuperação de Castelo Rodrigo. D. Fernando mandou reparar as muralhas que logo vieram a ser palco de lutas.

No decurso da crise de 1383-1385, o facto do alcaide-mor de Castelo Rodrigo ter jurado fidelidade a D. Beatriz e ter recusado as chaves ao Mestre de Avis terá condicionado essas lutas e arruinado de novo a fortaleza. D. João I, punindo a vila, impôs-lhe nas suas armas o escudo invertido e coloca-o na frontaria da torre de menagem, subordinando-a ao Castelo de Pinhel.

D. Manuel, mandou reedificar as muralhas, fortificando-as com treze torreões em forma semi - circular com ameias e caminho de ronda e as suas quatro portas.

Dentro das muralhas foi erigido em 1590 o palácio de Cristovão de Moura, Conde de Castelo Rodrigo e um dos homens mais notáveis da sua época. É um edifício grandioso e imponente que está situado no coração do Castelo.

No período da Restauração, face à atuação de Cristovão de Moura, adepto incondicional do monarca castelhano, acendeu-se a fúria popular contra os defensores do usurpador que incendiaram o palácio, provocando a sua ruína que ainda é bem visível.

Perto do local da entrada poente encontra-se, ainda hoje e com relativa utilidade, um poço - cisterna construído em cantaria com a profundidade de 13 m., onde a água nunca acaba e terá sido outrora um valioso ponto de apoio à resistência e defesa da fortaleza quando cercada.O acesso ao fundo é feito através de uma escadaria em granito que acusa o desgaste provocado pelos milhares de utentes que os séculos por ali viram passar. Tem duas portas, uma de estilo árabe com arco em forma de ferradura e outra de estilo gótico.

Dentro da área das muralhas existe a igreja matriz que terá sido construída por uma confraria de frades hospitaleiros que se estabeleceram em Portugal em 1192. Propunha-se esta congregação ajudar os peregrinos que se dirigiam para Santiago de Compostela ou para Roma.É de estilo românico primitivo e encontra-se muito alterada pelas reparações que sofreu no século XVIII.

Como símbolo de justiça de tempos remotos, existe ainda um pelourinho de estilo manuelino - século XVI - que, por sorte, escapou à destruição que o povo levou a efeito no decurso do século XIX. Este o resultado do ódio que o povo criou aos pelourinhos, por só ver neles um marco de castigo e esquecer que também revelavam autonomia e liberdade na aplicação das leis e administração da justiça por parte das autoridades locais.

A freguesia de Castelo Rodrigo chegou a ser sede do concelho até às reformas administrativas de 1836, altura em que passou para a freguesia de S. Vicente de Figueira, a qual recebeu o foro de vila em 25 de Junho de 1836, sendo-lhe dado posteriormente o nome de Figueira de Castelo Rodrigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aprendi muito